POEMA CAMPESTRE

Um poema sem ombros não poderia

levar os sacos de cimento e de areia,

a enxada, para a construção da casa

que abrigaria seu corpo para as exéquias,

os amigos, as flores, os presentes...

No alto dá colina se vê as ovelhas, os cães,

os pastores, ajoelhados, oram, silenciosos,

nuvens pairam como se acompanhassem

o cortejo, o vento sussurra e vaga, sem pressa,

contornando os troncos das árvores frondosas.

Um poema sem mãos não escreveria odes

anunciando a presença de Deus, seus anjos,

nem poria no envelope os nomes daqueles

que não puderam vir, presenças anunciadas.

Um poema sem amor seria como frases vazias,

arderia no fogo sem explodir em aromas,

impediria o elo entre o invisível e a forma,

nu de vestes, não seria visto transitando

entre futuros nubentes e jovens viçosas.

Fostes um poema feito de bordas finitas,

oráculo cravejado de pérolas e pensamentos,

cunhado em bronze e ouro, ágata e safira,

a música vinda de um lugar distante

chamado céu, apascentaria os filhotes

de sonhos, os filhotes de lobos,

as filhas das palavras que descem

das montanhas com sorrisos

mais bonitos que borboletas