O OUTRO POEMA

O outro é você em qualquer outro lugar.

Alguém rindo numa festa,

tocando saxofone na esquina,

o negro que parece que tem uma marca na testa,

pelo próprio pai, a abusada menina,

o homem deitado no papelão,

em carne viva, a poesia

escrita, jogada ali no chão...

O outro, que é você,

se senta num restauranre e pede filé,

apalpa o bilhete no bolso e ganha, sem ver,

cumprimenta o vizinho, - como vai, seu José?,

o reencontro com amigos, tudo pode ser...

O outro será sempre o que você não foi,

o milionário mirando o mundo, da cobertura,

no pasto, o mugido dolente triste do boi,

a avó que afaga o neto com amor e ternura...

O outro pode não saber,

mas é você, noite e dia;

em outro língua pode dizer

que somos sempre a mesma poesia...