POESIA MINHA
Conto nos dedos
as vezes que tive medo
da caneta na escrivaninha...
Algo acontece no fundo
como se viesse de outro mundo
cada palavra que vinha...
O papel, como um leito de núpcias,
recebia a tintura com a volúpia
de quem na beira do abismo caminha...
Tolo de quem pensa que esforço não há
no surgimento do verso aceso a falar
de suas florestas, campos e vinhas...
Quando se abre os caminhos ao poeta
há de se falar da luz que entra pela fresta
do olhar e com ele a invenção caminha...
Dito e feito, percebe-se em seu rosto
um êxtase que diz que nele foi posto
o sangue da poesia, na agulha a linha...
E, como um bardo a gritar na rua,
devotado ao sol, devotado à lua,
trêmulo, diz, está poesia é minha..