SEGUNDAS INTENÇÕES
De que adianta te levar pra jantar e não te comer
com os olhos?
De que adianta elogiar tua pele macia e sensual
e não te cravar os dentes?
De que adianta fechar janelas e acender o abajur
e não mergulhar no teu fundo mais fundo
onde o amor a toda matéria dissolve?
Amar é virar do avesso o medo de se entregar
e, desnudo, ir de encontro à maçã, morder,
rir da serpente, assá-la, abrir as portas do Paraíso,
se deitar na grama, abraçar o céu...
Hoje, politicamente, o desejo observa,
através do buraco da fechadura,
as curvas que passam, Triângulos das Bermudas,
o medo que o sexo causa, o pavor elétrico,
as segundas intenções trancafiadas
nos cofres das pseudo - relações,
o amor, meu amor, modificado
ao extremo, quase perto
da extrema unção.