Se traz a borda d'alma fados postos
Houvera tempo que eu melhor me compreendesse.
Foram tempos idos, que aquele Eu já falecido
Quem sabe, aqui, melhor lhe escrevesse.
Tu vieste a mim com ânimo supremo,
Como que nuvem graciosa.
Portando, em si, poças d’águas destiladas
Vagamente, em minha estrada - que é seca,
Quebradiça e malditosa.
E que, quando muito está nodosa,
Lembra bem aos bueiros lameados
Que quando, ingênuo, eu subsistia
Recordo, com outros tolos ter brincado.
Mas tornemos ao que o amor tem por beleza,
Que, embora se entenda bela a natureza,
Não é sempre que aquele desabrocha.
É coisa que pulsa, que dói, e não se tange.
É coisa que aquieta, compraz e amaldiçoa.
Há cousa insana como esta?
Ver-se pleno numa pessoa?
É tão feroz e solitário o emprego dos esforços
Em propor que seja vario, aquilo que é de um.
E, num altruísmo alarde dos afetos,
- Em que se envolve o enamorado -
Bradar aos ventos, sem recato,
Convencidamente que Eu sou Tu!
Esses moços, bem lhes disse Lupicínio
Deixam o céu, porque em fascínio,
Creem o inferno luminoso mais
Que o paraíso.
Nós, apartados, viemos.
E não restaram lazeres tantos.
Que transmutar o amor em cantos