Tu és meu amor paradoxal!
Escuto toda a extensão do silêncio,
O Amor acorda, anda, fala e abre portas dentro de nós;
O infinito do universo é esmagado em nosso abraço,
A gente enlaça as mãos sem tocarmos na mão um do outro.
Há orquídeas em teu olhar cheio de chuvas,
Há rios de ternura onde meus lábios se refrescam ao te beijar,
Há risos sorridentes e lágrimas pranteadas onde te encontro sozinha, sentada lá no quintal.
Mas tua solidão me faz companhia,
Você passa as mãos pelos cabelos e me olha com um olhar pensativo e cabisbaixo e me dizes:
_ Não se iluda com quem eu sou!
Eu afago o teu rosto com as minhas lágrimas e lhe confesso:
_Eu sei que não sei quem você não é!
Você me acorda no dia seguinte sem me despertar,
Os filhos que nunca tivemos correm, felizes, pela sala da casa;
A árvore da vida frutifica no silêncio de tua voz:
Esse silêncio que enche o vazio de novas palavras,
Essas palavras que florescem a semente da paixão,
Esta paixão de entender todo o teu lindo corpo com a carícia de meu silêncio palpável,
Pois as palavras morrem diante do amor gritante que silencia nossos medos e solidões e incertezas tão certas e incertas!
A gente se olha, fixamente, com os olhos fechados,
Nossas vozes dialogam uma com a outra silenciosamente,
Pois todo o nosso amor é um pecado sem máculas e sem transgressão,
O nosso amor é um longo grito mudo de infinitas vozes,
O nosso amor é um contínuo morrer cheio de vidas e mais vidas,
O nosso amor é pura lucidez louca,
O nosso carinho é um lindo sossego desassossegado,
Os nossos sentimentos são anomalias normais,
Pois nós nos esquecemos um do outro
Para lembrarmos e amarmos ainda mais um ao outro.
Tu és aurora dessa noite sem luares,
Tu és a noite das manhãs ceprusculares,
Tu és o meu outono cheio de primaveras,
Tu és a vida que ressuscita mundos e eras.
Gilliard Alves