Caro amigo poeta
Na verdade, caro amigo poeta,
o mundo é tal qual o sopro do vento norte,
tão frio quanto o cume do Everest,
profundo como o abismal oceano.
Os olhos já não enxergam o horizonte,
a luz do sol queima minhas retinas
e perco o dom de distinguir as cores do arco-íris.
Tudo é cinza,
inconstante como o impiedoso destino.
Na verdade, caro amigo poeta,
eu nada sei do que sei, o querer já não é absoluto,
a mente cria miragens e a boca ressecada
amarga como fel na falta de um beijo.
Ah, caro amigo poeta,
quanta saudade sinto em não te ver,
nossas fronteiras longínquas nos interpõem,
a maré baixa encalha os navios, e o luar, e as estrelas,
festejam em nossos corações o amor que não se acaba nunca.
Na verdade, caro amigo poeta,
não sei contar ao seu respeito, tornastes-te uma sombra sem rosto,
aventurasses-te na solidão e no silêncio
como chuva fina no entardecer
ou como uma lágrima que caí de emoção.