Naturalidade
Como a luz do sol clareia o cômodo vazio
Adentra tênue tua intensa e gloriosa luz
Feito botão de flor que se abriu
E a pureza dos olhos me seduz
Livre e leve, livre-me e leve-me
Pelas tuas trilhas tão singulares
E, se permite-me despertares
Prometo não ferir-te a inocência
Ainda que seque a fonte, seque o monte, seque a boca
Nada pode ser tão louca quanto tua naturalidade
Que os pés amassam a relva nessa aurora
E anseiam como outrora caminhar direito
O aperto no peito, a falta de jeito
Mistérios antigos de terras e rios
O tempo como cego juiz
Secando o verniz e estufando a variz
A paz dos teus olhos tão negros
Benditos cabelos com cheiro de flor!
Brancas mãos de carne e osso
Que me ajeitam o terno e afagam-me o rosto
Pequenas como detalhes, fortes como pilares
Tanto quanto o que já não sei
Se tu és rainha, faça-me rei
Que te oferto as vidas que terei!