Atrás da porta
Gatos arranham
a porta
no deslizar pollockiano de unhas.
Garras noturnas
instigam a entrada,
o mundo em torno.
Lá fora,
nas ruas
mal desenhadas
de nossa cidade,
perfiladas sombras,
prédios,
platibandas,
lufadas de vento
sonoras.
Aqui dentro,
no quarto,
madrugada de lençóis,
animais humanos
que somos.
Soma.
Escrutinamos
mistérios
no amor:
ministérios.
Que seja longo
nosso encontro.
Almas peregrinas
que nos tornamos.
Retornamos.
Ao enlevo
dessas carnes,
dessas peles,
vestes desprendidas
pelo chão inerte
do tempo.
Baila uma vida,
luz bruxuleante
dos filmes,
o espiral da fumaça:
Espíritos alertas.
Raciocínios,
indagações,
o menino do filme italiano,
o filósofo enfermo alemão,
o esteta pintor,
a diva americana.
Tudo que
intuímos
no baque,
na chave,
no lacrar da porta.
No poder
fecundo
do encontro.
Tudo nos pertence.