No Fundo do Poço
Faça de mim apenas um poço
em qualquer deserto sem água
neste infortúnio causal que ouço
em que a ternura pouca mirrava
Faça-me tela de linho branco
onde amor se desmancha nas cores
e que a dor é um mal natural
e escorre por entre pedras de açores
Faça de mim amor para quem não entendeu
que é para todos a lei
faça-me fogo em que me queimei
na noite sem a lua cor de breu
Faça de mim o ator que nunca fui
ou esta tristeza que coça e arde
sem que eu possa dizer um Ui
ao ver morrer a minha tarde
Dê-me então teu abraço; Ò noite escura
aos meus olhos mostre o meu fim.
Já não há lei,
nem dos homens, nem de Deus
só o negrume que não poderá negar
para mim.