QUINTA-FEIRA

Meus olhos choram o mar quando penso que ele já levou muitas vidas,

Quem sonhou águas tranquilas e se deparou com ondas intimidadoras,

Não sabe ainda, mandar que elas obedeçam aos sinais, dores e medos.

Sempre guardei segredo, temendo que ele ouvisse, que se aproveitasse

De qualquer fraqueza, qualquer insegurança, desta criança livre e pura,

Que estendeu as mãos, que trouxe o verão, que ofereceu sua amizade.

Já é quinta-feira e o barco partiu como proposto, com gosto de navegar,

O vento se engraçou pela vela, bela, envolta apenas nela e dela quis mais,

Acariciá-la por vezes, agitá-la demais, fazê-la seguir para onde se recusara.

E veio a aurora, quando a noite selou a tarde e sem alarde te avistou feliz,

Não era a sua primeira vez, mas, era como se fosse, tamanha a descoberta,

Tamanha a oferta de gemidos e sussurros, de gritos que já não eram de dor.

Foi quando se deu conta que era hora de voltar, de aceitar que acabou,

De contabilizar o que restou depois de tantos naufrágios e presságios,

Era só você, a porta destrancada e um frio gostoso na pele e na alma.

Sérgio Sousa
Enviado por Sérgio Sousa em 30/01/2020
Código do texto: T6854015
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