QUINTA-FEIRA
Meus olhos choram o mar quando penso que ele já levou muitas vidas,
Quem sonhou águas tranquilas e se deparou com ondas intimidadoras,
Não sabe ainda, mandar que elas obedeçam aos sinais, dores e medos.
Sempre guardei segredo, temendo que ele ouvisse, que se aproveitasse
De qualquer fraqueza, qualquer insegurança, desta criança livre e pura,
Que estendeu as mãos, que trouxe o verão, que ofereceu sua amizade.
Já é quinta-feira e o barco partiu como proposto, com gosto de navegar,
O vento se engraçou pela vela, bela, envolta apenas nela e dela quis mais,
Acariciá-la por vezes, agitá-la demais, fazê-la seguir para onde se recusara.
E veio a aurora, quando a noite selou a tarde e sem alarde te avistou feliz,
Não era a sua primeira vez, mas, era como se fosse, tamanha a descoberta,
Tamanha a oferta de gemidos e sussurros, de gritos que já não eram de dor.
Foi quando se deu conta que era hora de voltar, de aceitar que acabou,
De contabilizar o que restou depois de tantos naufrágios e presságios,
Era só você, a porta destrancada e um frio gostoso na pele e na alma.