Grito mudo

Volto para o mundo a pé

Na calada da noite

Depois de um dia qualquer

Ou tão específico quanto hoje

Revirando os poemas

Esvaziando a galeria

Sinto o peito apertar

Sinto o pulmão arder

Por que o amor arde?

Talvez morrerei de saudade

Talvez morrerei de alívio

Não sei

Só sei que o amor é doído

E faz parte chorar

Mas e quando o choro entala

Fica preso na garganta

E o mundo parece que vai acabar?

Ou quando o mundo não parece mundo

E a inércia se apodera do corpo

Imóvel no canto

Procurando sentido

Abrigo

Um rumo

Parece que a vida perdeu as pernas

Minha cabeça dói

O resto se corrói

Afundo no último estágio do poço

Perco as forças

Na metade do caminho já havia me perdido

Agora estou a mercê

Entregue a ralé

Não vejo um motivo sequer

E vejo tudo

Não há um fim mudo

Que não grite no ouvido

Que exploda

Hoje é sexta feira 13

O amor continua em vertigem

Mas parece que cansou

Morreu ao leito da dor

Não suportou a sociedade

A metade não sei se era metade

Era passagem da beleza

Unânime

Perfeita

Era quase um devaneio

Fatídico

Vencia a incapacidade

Corria em alta velocidade

Era feroz

Louco

Obsceno

Rugia

Mas era finito

Agora

A pé

Sigo andando no mundo

Dando voltas no subúrbio do amor