Coisas Fugidias (Infância)

Como eram doces aquelas manhãs.

O cheiro de murta nos envolvia

misturado ao café recém-coado.

A cerca viva tinha um portão

que não tinha tranca,

nem nossos desejos...

Ah! quando te subtraí um beijo

Foi quando distraídas olhavas para o céu.

Foi doce, muito doce, pois foi roubado,

o primeiro!

Depois, fingias abstrações

para que eu te beijasse mais...

Beijei-te ao som da cavatina

que a brisa trazia de longe.

Beijei-te ao som quase inexistente

daquele regato lento em que caminhávamos

sobre um tapete de coloridos seixos.

Ah! o regato onde eu adorava

Quando mergulhavas

só para ver flutuar

teus longos cabelos de algas...

E foram tantos encontros, doces, soltos...

que o mundo parecia só nosso!

Mas um dia foste embora da fazenda.

A campina sentiu a falta de uma flor.

A cavatina nunca mais foi ouvida.

O regato emudeceu..

Um beija-flor, nunca mais beijou...

SBC-SP. José Alberto Lopes®

22/01/2010

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 19/10/2019
Reeditado em 05/11/2019
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