QUASE PERFEITO, CHEIO DE SAUDADE (para Cecília Maria De Luca)
Essa mulher estranha e bela
tem suas pétalas
a margear o malmequer,
parece querer, perece o ser, floresce.
Para protegê-la ergui muros altos
e nos cerquei de bem-me-quer;
quem passa na frente do jardim
nos vê de fora como quer ver
onde somos estranhos e belos
ninguém alcança nos maldizer.
Eu sei que todos desconfiam sem saber,
fomos, somos, éramos.
Aquela fenda no tempo continua aberta
e nela florimos
colorindo a varanda amparada na encosta das eras.
Onde antes éramos eternos
outra primavera nos mostra
o encanto de sermos breves;
o perfume etéreo do jasmim
corteja translúcida margarida.
Nossos dias são ninhos cercados por espinhos
mas eu teci bordado na passagem das horas
com as marcas mais profundas que é meu canto.
Com jeitinho de quero-quero emplumado no ninho
eu venho dizer que te amo e saudar sua felicidade!
Que seus dias sejam como os meus,
quase perfeitos, cheios de saudade.
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Baltazar Gonçalves