Quem diria
Estou sentado neste dia lindo, disfarçando numa lanchonete e de bermuda
Espantado. Como minhas bochechas ficam vermelhas e minha boca muda
No mesmo horário, pontualmente, eu olho a porta e vejo ela chegar
Jeito de patricinha, toda exibida, mas coitada, é “caipira pra danar”
Dou risada, escondo a cara, porém a verdade é que não consigo disfarçar
O quanto gosto, e por isso aqui sempre venho, do seu jeito de falar
Ela senta, pede um café, me encontra, me cumprimenta com o olhar
E pensar - que demora foi gerar em nós esse jeito íntimo de cumprimentar
Meu Deus! Sou mais velho e fico com vergonha só de imaginar
O quanto pareço um bobo, pois depois de tanto tempo tenho de confessar
É inexplicável a doçura, o impacto gostoso, romântico, de se apaixonar
E ela lá, toda atrevida, fingindo desviar os olhos, querendo me enfeitiçar
Desde que a conheci, privei-me e evitei, pois sabia o que esperar
Sou macaco velho, já iludi e me iludi, e conheço o jogo de amar
Mesmo nova, ela, bonita que só, também boba não é e sabe como chegar
Após muito pensar, resolvi mergulhar, não importando se era pra cara quebrar
Bobo quem pensa que o gostoso da vida é ter alguém pra compartilhar
Da vida a dois, com filhos, cachorros, contas e aluguel pra pagar
Bom mesmo era estar como estava lá, caipirinha no copo e chinelo no pé
Esperando o momento dela chegar, depois olhos nos olhos e no peito a fé
O pouco que nos falamos é muito e aos poucos iremos nos atrelar
Quando menos reparar, estarei sobriamente perdido nela, pronto a jogar
Meus sentimentos no colo da ilusão ou não, e sentir o que tiver de virar
Porque o gostoso da vida mesmo gente, hoje sei, é poder se apaixonar