Lastro de Perfume

Desfaço compromisso,
arreio o pensar
na paisagem,
ou no próximo
que pede passagem;
desmonto minhas coisas
em praça pública;
rebuliço as crianças
com minhas quinquilharias.

Sou feliz por tentar.

Sou absorto e de retidão.
Não faço por menos,
mas quando não
há milagres
tenho que
me retirar.

Sou compasso de flores,
jardins desfeitos pelo rústico
vento norte.

Mas ainda sou um pouco
de ser.
Tão difícil - só um louco!

Então, num soslaio de
esperança,
me arrumo de prumo
com vasto lastro de perfume
e vou à procura dela.

Escondida em alguma
parte do corpo dela
fica o passado
- tão distante -,
camuflado de espíritos
das coisas do mundo.

E sei que não vou encontrar:
na minha vida só me
deparei com rastros, e
apanágios coloridos
de morte.

E sei que vou à toa,
de rústico, sei lá,
com outra vida,
dispersa da minha !

E eu, de caduquice troiana,
vou pedir pra ficar;
ficar de momentos,
só, por um minuto, até!

Olhar pro rosto dela
e pensar -
um dia tive este castelo
e a maresia do destino
o carregou pra outra vida.

Vida que me carregue!
Vida que me desfaça !
José Kappel
Enviado por José Kappel em 12/06/2019
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