BUSCANDO POR ELA

(ao som de kalumbinga*)

Eu andava de picadas à picadas fora como um doido

Procurando pela moça com idade na casa dos vinte

Chamava amiúde com o chamariz, chamava alto

Por dias e noites a fio

Mas ela hesitava em sair de casa!

No entanto, vez ou outra, parava de súbito, lá

Na maior kitanda da sanzala, em frente a multidão

Declamando-lhe o meu ardor mais ardente:

"O chuvisco da sétima lua e a raiz de mwelele*

Casam bem um com o outro —

És tu mesma a verdadeira cônjuge do meu ser!"

Sim

Eu andava de lugar para lugar feito maluco

Buscando pela moça com idade na casa dos vinte

E até assobiava com meu kalumbinga* entrementes

Ela ouvia mas hesitava em sair de casa!

Tempos depois (já não sabendo de quantas andava)

Circunvagava mais adiante como um Kilulu

Completamente abandonado à própria sorte —

Todavia — numa ânsia de frustração e desespero

Murmurava o nome dela com o mbanze* na boca

Ao mesmo tempo que invocava o Kibuku

E por milagre, vi uma que caminhava por atalhos

Acompanhada com arco-íris de mariposas

Que compraziam em festejar ao colo da brisa

Era a moça com idade na casa dos vinte

Que aparentava uns dezassete anos

Acentuados por mil meiguices numa Beleza singular

Que embasbacava o mundo!

Ela vinha sorrindo com imagem minha

Desdobrada na memória dela como um arrebol

Eu vinha apressado com dádivas de mindangala*

No meu kalubungu* ao pôr do sol

Nos deparamos no último recanto da sanzala

Eu e aquela moça sem igual (a quem tanto desejo

Por mulher)

A moça com idade na casa dos vinte

Que ainda — a despeito de tempos decorridos

E tantos caminhos de desencontros —

Ainda olha-me ao jeito de quem esta enamorada!

Kalumbinga = pequeno chifre para assobiar.

Mwelele = planta aromatizante.

Mbanze = amuleto ou filtro amoroso que se supõe obrigar o amor.

Kilulu = espírito que vagueia pelo mundo sem destino

Mindangala = pedras preciosas de cor verde usadas como ardono.

Kalubungu = pequeno chifre mágico que, nas fábulas tem o poder de fazer brotar do nada, coisas encantadoras.

Escrito originalmente em Kimbundu e traduzido para português por o autor.