Noturno
Noturno
Então fiz a subida
como que um conhaque que faz a gira da vida
me abracei aos ombros em fibras de cada palavra lida...
E provei o gosto bom da boca percorrida
nas histórias que nem eram de mim
mas dum universo que eu conhecia sim
de estoques e provisões e farinhas
para outros pães de vidas
que já vivi noutras eras e ocasiões...
E ele incansável subia, donde eu o seguia
a ver assombros de águas puras e alegrias
e ele na sede sorver, via e se compadecia
por aqui e ali, a meia volta fazia
quando não o apetecia..
Sua estampa urbana, seu suave contrapeso
A corrente que o deixou indefeso...
Desci minha canoa que nunca teve prumo
nem ditames, nem rumos
Pensei as coisas do mundo
e nos escuros olhos dele
dois lagos imensos, noturnos...
Dorothy Carvalho