Noturno

Noturno

Então fiz a subida

como que um conhaque que faz a gira da vida

me abracei aos ombros em fibras de cada palavra lida...

E provei o gosto bom da boca percorrida

nas histórias que nem eram de mim

mas dum universo que eu conhecia sim

de estoques e provisões e farinhas

para outros pães de vidas

que já vivi noutras eras e ocasiões...

E ele incansável subia, donde eu o seguia

a ver assombros de águas puras e alegrias

e ele na sede sorver, via e se compadecia

por aqui e ali, a meia volta fazia

quando não o apetecia..

Sua estampa urbana, seu suave contrapeso

A corrente que o deixou indefeso...

Desci minha canoa que nunca teve prumo

nem ditames, nem rumos

Pensei as coisas do mundo

e nos escuros olhos dele

dois lagos imensos, noturnos...

Dorothy Carvalho

Dorothy Carvalho
Enviado por Dorothy Carvalho em 15/02/2019
Reeditado em 01/06/2024
Código do texto: T6575956
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