O escravo

Tarde era quando surgiu o vento que como uma folha me levou e lentamente desapareci na alta vegetação dos anosos campos de guerra. Lugar em que dominava de modo estranho em pleno silêncio o gemido. Mas durante longas horas na sombra compacta nada eu via.

Ali tudo era desespero em volta de mim floretes estorcidos se libertando abria eu asfixiado no caminho, porém confundiam e me cingiam prendendo meus passos. As mãos eu prendia e tamanho era o pavor que eu fechava os olhos. Procurei romper a distância lutando pela minha própria vida, nesse instante, porém, nada me era favorável e eu fui açoitado.

Em um cara nodoso e áspero fui me transformando, foi a partir de então que pôs a escorrer do meu suor uma espécie de resina. Meu corpo ficava coberto de folhas para eu ser embalsamado. Levantei os braços e vociferei, porém eu já vivia em outra vida. Depois tudo passou hirto esgaivotado e distante, uma súbita preleção me abismava.

Nos meus olhos cegos surgiu uma grande esperança. Tentei avançar sobre os Tentáculos das raízes de meus pés. O vale desabou e eu rolei ribanceira abaixo, “vi O céu, vi o chão, vi o céu, vi o chão”. Foi quando me perdi numa grande região repleta de duendes altos que se moviam.

Estou no enigmático impero dos ciprestes. Aqui estou inerte, cativo a terra, escravo dos barões psicopatas. Nesse lugar vejo coisa que o home jamais viu. Neste lugar sofro do frio que o ser humano jamais sofreu. Este é, exatamente, o enigmático império dos ciprestes, que prendem pálidos cravos e lívidos lírios dos sepulcros, que serenos se respeitam seriamente como uma corte de almas falecidas.

Vejo, sentem meus olhos e ouve minha alma o diálogo da minha sina nos sinais vagarosos da colossal inocência, onde a cólera desfolha nos picadeiros de rosas na aura indecisa, eis-me aqui como criança uma briófita, mas o medo de não ver a luz é muito grande. Medo que carreguei por muitos anos durante toda minha vida.

Este nada mais é que o feudo da morte incomplacente. Proíba - czares, barões, príncipes, áulicos, algozes do grande país sem mulheres! São seus escravos o solo que me prendeu nas suas sagacidades. O orvalho que entorna da boca dos lírios e rega seu solo veio no vento a seu mando e em reverencia aproxima-se a noite do fantástico baile macabro. No cantochão do tempo os machos entoam inacabados lúgubres.

Estou entre prisioneiros, qual arbusto que não vive em galho vinte quatro horas por dia. Aguardo a minha vez o que virá sem artifícios e sem influência. Encontro-me acorrentado a terra e a mim mesmo. Pequeno ser inerte a quem foi oferecido à desesperança assistindo em seu seio o vento que traz até mim a imensa noite. Assistindo o vento que despeja o orvalho do albor na boca dos lírios.

Assistindo aos lírios onde a missão é lançar o orvalho na poeira que o vento espalha, vendo passar a poeira que o vento leva, que é meu, que é a minha própria sina. Arbusto inerte, poeira presa à poeira, pobre escravo dos barões psicopatas.
R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 05/02/2019
Reeditado em 06/02/2019
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