AMÁSIA

(ao som de ndamba)

A beldade lendária repousa-se meiga

E bem se apraz deslumbrosa e majestosa

Em sua calma ventura de ser

Enquanto dessarte contempla-me todo ali

Sobre uma taça de maluvu na mão—

Doutro lado do monte sagrado

O gado vai ao pasto em campo solto

Seguindo o costumeiro passadouro

Com passos pacientes de Kabila*

A minha amásia repousa-se ainda

De pernas encruzadas no tempo

Junto às aves trinantes

Na beira do ribeiro espumante

Correndo alvo sobre o penedo escarpado

Meu coração bate chamando por ela

Neste instante que precede com apreço

O declinar do sol solene

E ela, comovedora lindeza inigualável

Sorri afável – um sorriso frondoso

De alegre aprovação

Em sadia languidez do dia

Ao entardecer, quando o frescor sereno

Se avizinhar e a vaga retroceder

Ela vai encaminhar-se para o prado

Cheia de ulumba*

Descendo o atalho que leva à relva

Ao de leve, gingando

Toda airosa, dengosa e sempre mimosa

Com a insígnia real na kindumba*—

Jimbumba* bonitas na cintura

E colar de búzios raros

Que desce-lhe na homba*

– Emanando um cheiro a kibuma*

E numa impaciência louca

Eu estarei debaixo da copa do arvoredo

Deitado na folhada, esperando por ela!

Ndamba = instrumento musical

Maluvu = vinho de palmeira

Kabila = deus dos rebanhos

Ulumba = mocidade feminina

Kindumba = cabeleira Africana bem

tratada

Jimbumba = tatuagem

Homba = entre os peitos

Kibuma = planta aromatizante

Escrito em Kimbundu (Angola).

Tradução Portuguesa do Autor.