você vai pro céu se der o último cigarro do maço

em uma conversa ela disse não ser ciumenta
e abominava este sentimento.
carregávamos a posse um do outro,
de mãos dadas pela rua
ou trocando olhares quando sentávamos à mesa do bar.
não iria durar muito, do jeito que a verdade
acontece.
vemos isso se perdendo ao decorrer do caminho
até o sangue cuspido parecer inofensivo.
a trincheira cavada em nosso peito se expande
sem percebermos.
pode ser tarde demais,
e nunca será a última vez.

tive que jogar os lençóis fora,
não porque estavam manchados.
mas eu me lembrava das tardes
que passamos
e das noites
que poderiam ter acontecido.

à noite, as conversas me abraçam
e continuo a ir aos mesmos lugares
com as mesmas bebidas e as mesmas
pessoas.
como um bêbado que às onze da manhã tropeça
carregando uma sacola de pão,
ou as flores que fogem das árvores
caindo para o chão podre
mostrando a nós
o preço que se paga por um momento de liberdade.
Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 03/12/2018
Código do texto: T6518137
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.