VENHA...
Venha me visitar quando puder, quando quiser,
como faz o vento quando põe os pés
cheios de penas que o faz flutuar,
vento, entidade enigmática,
a executar o bailado
dentro do ar...
Venha, pela porta passe e, já dentro,
esculpa seu momento como faz o tempo
com as rendeiras de horas,
teça seu bracelete de pérolas fugidias,
trace seus traços, sem demora,
esqueça os perdidos dias
que passaste sem que te visse
o sol que dormia com a lua,
espalhe os filamentos
de tua alma nua,
de tua ardente poesia...
Venha, respingue a chuva de tuas músicas
sobre a pauta desnecessária,
caminhe como um pastor a apanhar flores.
se benza com os pios dos pássaros,
se ajoelhe e se cumpra a sina,
sobre tua cabeça o sol luminoso,
sob teus pés a terra recheada de promessas,
dentro de ti os mistérios gozosos,
ao teu redor a felicidade da dor às avessas....