Aqui jaz!
Era noite, mais comum, por silêncio acompanhada,
no calor de altas horas, a chegada inesperada.
Na penumbra do meu quarto, tudo mais era vazio,
e chegastes de repente, nos vapores do meu cio.
Tantas gestos sufocados, coração sem reticências,
sem futuro, sem morada, no limite da inocência.
Testemunhas deste encontro, só estrelas e luar,
que à distância observavam, a entrega em meu olhar.
Nos suspiros, liberdade, de tocar sem continência.
Os sussurros sensuais, que marcavam-me a existência.
No remanso a marugada, foi prazer, e não fronteira,
afogando toda mágoa, fez-se a noite, companheira.
Tuas mãos em minhas curvas, passearam sem lisura,
em meus sonhos infantis, fostes anjo e candura.
Em meu corpo inquieto, tua resposta foram beijos,
numa entrega espiritual, às travessuras do desejo.
Ancorastes lentamente, no meu cais de inquietação.
O sorriso foi teu leme, e o amor, foi teu timão.
E agora pelas noites, deixei lápide, com a inscrição:
"Neste teu querer profundo, jaz a minha solidão"...