PUDIM DE AMOR
Pudesse eu te tomar nos braços,
trazer-te junto ao peito,
sussurrar uma berceuse,
te dar o nascimento do mundo outra vez,
repartir a terra em grãos iguais a iguais,
te dar uma estrela e te confiar as portas do céu,
enquanto de olhos cerrados ouvisse meu canto
daria um beijo em tua face e Deus sorriria...
Pudesse eu desfazer a fuligem que cobre a cidade,
espalhar vassouras de brisas nas mãos de anjos,
mover os cordames das lembranças
e fazer o homem esquecer
do carro que acha que precisa para andar,
fazê-lo mover os braços para apanhar o filho esquecido,
lavar suas mãos e tirar as marcas dos fuzis dos seus olhos,
sim, fazer um jantar e um de cada cor se sentar à mesa,
servir a sobremesa, pudim de amor, no tom certo,
conversar na varanda sobre como as coisas andam,
despedir-mo-nos como cavalheiros
e cada qual em seu mundo,
sem ruínas,
sonhar com dias melhores...