TODO AMOR

Todo amor sem respeito é inválido;

a fronteira entre duas pessoas amadas

só pode ser ultrapassada pelo cálido

desejo de se dar tudo a troco de nada...

Todo amor com catraca é possessivo;

para chegar ao outro lado de cada ser

só o abstrato consentimento é permitido

como se abrisse um clarão para tudo se ver...

Todo amor que evita a palavra liberdade

termina numa cela de alma sem nenhum clarão;

e lá só escreverão nas paredes pequenas verdades

de grandes sonhos que se alimentaram de ilusão...

Todo amor que se medica por insegurança

caminha para um leito de nuvens sem chuva;

melhor é abrir do peito a primeira e única tranca

que transmuta o corpo como videira em uva...

Todo amor feito de renúncia torna-se cego:

anda pelo mundo à procura de carinhos materiais;

é como o pé que é ferido por enferrujado prego

e permanece nesse estado por anos imemoriais...