SERÁ?

Será que o soldado ama

quando lança a chama

contra a multidão

ou será que esquece o que sente

quando se alvoroça,

queimando gente,

ou se esquece do que fez

quando lava as mãos, na pia,

mais uma vez?

Será que o político remunera

sua embutida ética na caquética

face que vê no espelho

ou prefere ficar enterrado

numa montanha de dinheiro?

Será que o bispo consulta o coroinha

que está apaixonado pela sua sobrinha,

será que o marujo escuta a tartaruga

reclamar das rugas,

será que o Papa dança

feito criança

diante da Capela Sistina

ou pensa que dança é coisa de menina?

Será que o poeta

esculpe seus versos como Michelangelo,

ou rabisca seus esboços como Da Vinci,

será que reza na hora do Angelus

ou reescreve sem remorsos, acintes?

Será

que a pá

enterra a semente de cajá

ou já já

nascerá um pé de flor

compostos de espinhos

e pétalas de amor?