A PROCURA
Quando era menino,
logo que acordei, disse à minha mãe
que ia procurar onde morava a poesia...
Ela, rindo, disse: vai, filho,
vê se volta para o almoço...
Calcei os sapatos e, porta afora,
respirei o ar da manhã, senti o sol,
escolhi ir pela rua atrás de casa,
fui bem devagar, não sabia se a poesia
andava ou corria ou se se escondia...
Dei de cara com um cachorro de rua,
ficou me olhando como se quisesse me dizer alguma coisa,
língua de fora, achei que não conseguiria falar,
quando saí andando ele me lambeu a mão,
pensei ter escutado ele rir, pensei,
a poesia, será que está no cão?
Mais adiante a moça que vendia frutas riu para mim,
perguntou - onde vai, menino? - eu disse, achar a casa da poesia,
ela riu, me beijou a mão, se voltou para dentro da loja,
fui embora sem entender o que ela quis dizer nada dizendo,
pensei, será que a poesia está na beleza da mulher
que vende frutas e que me deu um beijo na mão?
Depois de muito procura, já no final da tarde,
andando na rua sem asfalto, achei um pedaço de lápis,
me lembrei do que a professa havia me dito sobre o grafite,
o muro estava meio branco, resolvi escrever alguma coisa,
como se meio hipnotizado ou levitando
fui escrevendo e depois parei para ler
e lá estava escrito, meio rabiscado,
- a poesia está em você, em sua alma,
em seu coração ainda imberbe,
que ainda não sabe o que é o amor,
mas é muito amado, de modo doce e leve...