O que restou de você?

Não me preocupa o que você faz.

E sim o que atreve a sonhar.

Não me interessa o que você tem,

E sim os desejos que seu coração contém.

Não quero saber do seu presente.

Quero saber o que ainda faria por amor,

Pela incerteza dos seus sonhos,

Pelo risco da aventura de estar vivo.

Não me fale dos seus novos amores.

Diga-me se você conhece a sua própria tristeza,

Se aprendeu com as traições da vida ou se fechou

Por medo das futuras mágoas, perdendo o encanto e a beleza.

Não me interessa como lida com dor, outrora minha ou sua.

Quero saber se você é capaz de compartilhar, sem vergonha ou medo.

E com a alegria, outrora minha ou sua, se você dança loucamente,

Sem cautela ou limitações, nas pontas dos pés, aqui ou na lua.

Não me interessa o quanto você tem, nem de onde vem.

Quero saber se tem alma para perdoar, sem guardar rancor.

Mesmo desiludido portar-se como um homem que ama o ser humano.

Que cansado e machucado até os ossos, é capaz de falar de amor.

Não me interessa se já não me ama.

Quero saber se você pode conviver com o nosso fracasso, seu e meu.

Quero saber se você é capaz de admitir que me amou,

E o que por dentro de bom guardou ou se tudo se perdeu.

Se mesmo desacreditando de todas minhas promessas

Conserva a ternura de quem carrega consigo a fonte da vida.

Quero saber se você pode conviver com outros amores,

Como homem e como menino, daquela maneira tão querida!

Não me alimento sonhos para um dia no amanhã.

Quero apenas saber se você pode construir um amor fraternal,

Diferente do que o poeta rima em seus versos agressivos,

Mas com a ternura e entrega só sua, não tinha outra igual!