FANTASMAS AO AMANHECER
Estou só
e lá fora ainda chove,
e dentro de mim, fantasmas se movem,
ocupando vazios deixados pelo tempo que se foi.
Lembranças adormecidas despertam
e dores antigas voltam a doer,
a brisa da saudade
espalha um cheiro de mofo
que contamina a penumbra do recinto
e o que eu sinto
é uma vontade de voltar,
de voltar pra casa
dos meus dias de menino,
da minha mãe na cozinha
e do meu pai voltando do serviço
e eu sem compromisso
lendo e relendo gibis antigos,
o futuro era só um dia
que viria
nos acordar na manhã seguinte
e a maior preocupação
era com a lição de casa para entregar
ou uma pesquisa qualquer
sobre qualquer coisa.
De repente,
o relógio bate um sinal
ponho os fantasmas a ninarem
e vou trabalhar:
porque a vida,
bem, a vida continua!