Artífice
Por vezes tenho a nítida impressão
que vens ditar-me, ao ouvido,
o que escrevo;
que murmuras na harmonia
da chuva timbrando-se
na pauta dos telhados.
Percebo-te a voz dissimulada
na inquietação sonora da palmeira;
meu nome a gritar em tua boca
quando o vento desordena
a tessitura do silêncio
ou teus lábios declamando
com a brisa no cipreste.
Eu não passo de um artífice
a moldar o que transcreves,
um ourives da palavra
que só lavra o que avias.
Eu sou só um tradutor
do encanto que me causas
desaguando em vocábulos
o esplendor que se acumula.
Tu compões a partitura
que o amor dedilha em mim.