QUANDO MEU AMOR SE DEITA FRANZINO
Meu amor tem várias faces, várias vértebras, várias gavetas.
Por vezes é rasteiro, quase inerte, quase treco, quase cuspe.
Por vezes se faz enxurrada, se faz engate, se faz hemorragia.
Meu amor tem muitos gostos, muitos acordes, muitas folias.
Por vezes se diz capacho, se diz esquecido, se diz repugnado.
Meu amor tem vários úteros, vários começos, várias rebarbas.
Por vezes se diz ranzinza, se diz desatado, se diz mal capenga.
Meu amor tem muitas varandas, muitas esperas, muitas fatias.
Por vezes se põe velho, se põe retido, se põe coalhado.
Meu amor tem tantas feridas, tantas cerzidas, tantos xerifes.
Por vezes se deita franzino, se deita fugido, se deita estrebuchado.
Meu amor tem tantos frutos, tantos escuros, tantos engasgos.
Por vezes se traduz moleque, se traduz rendido, se traduz passado.
Meu amor tem tantas veias, tantas caçambas, tantas revoadas.
Por vezes se refaz encardido, se refaz esquecido, se faz bandido.
Meu amor tem tantas silêncios, tantos vazios, tantos vadios.
Por vezes se encerra rei, se encerra tempestade, se encerra Deus.
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