A Negra

Num país longínquo e secreto,

a lendária chibata de couro molhado

Jaz nas minhas mãos feridas e

sanguentadas, sentado no trono

decorado com lindos diamantes

de sangue esculpidos com lágrimas

que não eram mais que constelações

nos sonhos daqueles negros

arrastados de África em 1862.

Nas largas escadarias da sanzala

Subiam vassalos estropiados pelas

canas-de-açúcar, lugar inóspito onde

nem soluça o vento e se enterram vidas.

Pelas largas janelas de Pau-Brasil

entreabertas na escuridão do meu ser,

vi uma flor de lótus que me era desconhecida.

Olhava as estrelas…atada ao tronco

onde me cabia enterrar o couro na carne!

O implacável pedia a Deus para o sorriso

de magoa não lhe estropiar os olhos!

Linda! Soltem-na!!! Quem fez isso???

O sangue escorria-me nas mãos!

..de tanta carne que rasguei na chibata!

Nem mil litros de cachaça me farão esquecer!

Naquela noite escura e sem rouxinóis chorei!

Será pecado os demónios chorarem

as desgraça das Rainhas que matam?

Ao longe os vassalos da infelicidade cantavam

e dançavam em cortejo, alguns ainda sagravam

por baixo das negras vestes rasgadas.

Ela estava lá! O seu cabelo estava solto…livre.

Livre como ela nunca ainda o tinha sido…

Somente queria vê-la uma ultima vez!

Ficaram as vossas almas surpresas?

Havia todo um mar de tristezas em mim

Neste abismo de a amar com loucura!

Num arrepio íntimo e frio coloquei a mascara

aquela que tantos rostos sufocaram…

Salobra das lágrimas dos pais e dos filhos…

Sal e sangue…dor e ódio!

Não! Não a posso amar!

Alguém o fará na poesia!

De olhos cheios de lágrimas pela primeira vez na vida…

Nu…de máscara de ferro!

Fiz disparar a velha Enfield Pattern!

Febo
Enviado por Febo em 23/11/2017
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