Poetas Mortos
Fechei a cortina
De minha janela,
Silenciei os ruídos
Estridentes do caos,
Exceto a do vizinho,
Um aposentado
Que encontrou sentido
Em sua miserável existência
Fazendo reparos rotineiros
Em seu apartamento assombrado,
Fora isto,
Criei meu mundo
Feito de poetas mortos,
Neruda ao lado de Clarice
Pessoa entre Drummond e Cecília
Todos pendurados
Na parede do quarto,
E tantos outros
Despencando da estante da sala;
Vez ou outra
Algum vento datenesco
Penetra por pequenas frestas
Em minha porta,
Mas eu os ignoro...
Meus ouvidos e olhos
Estão molhados de versos,
E no teto translúcido de meu apartamento
Enxergo galáxias
De infinitas possibilidades,
E aqui,
Neste planeta reduzido
A tão pouco,
Consigo fazer sentido,
Eu e os meus poetas mortos.