O AMOR É UM RIO
O amor é um rio que sai de nós
e por ele nadamos até o outro
sendo obrigados, muitas vezes,
a parar em suas margens
para respirar ou refletir
os motivos pelos quais nos movemos
que nos fazem continuar e não retroceder
que nos fazem flutuar e não submergir
O amor é um rio
seu leito são nossos corações
e suas águas são todas as coisas
que nos definem como gente
diferentes das outras gentes
Afogar-se a meio caminho
é como desistir do outro
é como não reconhecer-lhe semelhança
é como não vê-lo ao final da correnteza
é como não saber nadar
no rio que somos nós mesmos
apavorados que ficamos
com os seres que nos assombram
na profundeza das águas alheias
que, por mais belos que sejam
por mais inofensivos que sejam
sempre os vemos,
daqui de nosso lado,
como monstros marinhos
E de mergulhadores
passamos a navegantes
por sobre as águas, com carrancas
e com o mais que nos possa defender
E esquecemos que o amor é um rio
e que amar não é e nunca será
desbravar o outro para conquistá-lo
mas conquistá-lo
para só, então, desbravá-lo
O amor é um rio
que tem em ti sua nascente
e em mim a sua foz
Mas é preciso desaguar e não atracar
É preciso chegar molhado das águas de si
e não suado de medo e desconfiança
Pois amar é, antes de tudo,
um ato de esperança
entre iguais que se completam
no encontro de suas diferenças.
(Poema dedicado à minha sempre amiga poetisa (recantista) "Esmeralda V", escrito num tempo em que eu ainda acreditava no AMOR do qual ela tanto fala em seus poemas.)