AMOR ADOLESCENTE
(ao som de marimba*)
Eu esperava por ela, ali
Bem próximo do rio Bengo
Eu esperava mesmo
Todo ansioso assim
No esconderijo do mato
E ela vinha de bom grado
Co' o mulele* verde a voejar
E logo pegava-me a mão
E beijava-me o rosto todo
Cos lábios doces assim
(De cada vez que lhe pedia)
E quando dei por mim
Estava eu a beijá-la também
Naqueles peitos cheios de vida
Até mesmo no pescoço dela
Que cheirava a mwelele*
Enquanto isso — oh Kazola*
Nos dávamos risadinhas
Meio acanhados assim
Sob o chuvisco da tarde
E murmúrios de acácias
Que entravam de leve
No esconderijo do mato
Ela encostava-se a mim
E fazia-me festinhas na cabeça
Toda amável, suspirando fundo
Cos olhos quase fechados
Co' a boca entreaberta assim
E corpo muito quente mesmo
Cochichava-me aos ouvidos
Que ali na baía dela
Entre as partes fofas dela
Havia um segredo envolto
Para eu desvendar com vagar
(quantas vezes quisesse)
Então ela tocava-me aqui a bem
Eu tocava-lhe ali e ali também
E gemíamos todos assim
Como um par de andorinhas
Prenhe de prazer mesmo
No esconderijo do mato
Eeh! meu coração batia, batia
Algo estranho agitava-me o espírito
E meu fulano levantava assim
E ficava assanhado mesmo
Durante muito tempo mesmo
Como um bicho louco
E pouco ajeitado ainda
Mas co' desejo forte assim
E um bastante pulsar nas veias
Eu desvendava o segredo dela
Todos os dias, à tarde
Ali mesmo, próximo do rio
No nosso esconderijo!
Marimba: instrumento músico.
Mulele-a-pengula: pano enrolado à cinta com
abertura em frente.
Mwelele: planta de ervas aromatizantes.
Kazola: deusa do amor.
Poema escrito em Kimbundu (Angola)
Tradução portuguesa do Autor .