Os seres humanos são produzidos em linhas de montagem

Os seres humanos são produzidos em linhas de montagem

e contra todas as expectativas

as nuvens e os voos mecânicos

eles se apaixonam

voltam atrás e deixam tudo

alguns trocados e mesmo bonitas casas

e esquecem de salvar o próprio rabo

ao se apaixonar

e tomam safanões

andam debaixo de chuva

perdidos em lugares bem fudidos

porque estão apaixonados

e se entregam a papéis ridículos

em dramalhões mexicanos

em comédias pastelão

quando se apaixonam

e tomam safanões

e tapas na cara

e arranhões na face

e se descabelam

e choram muito

e suspiram

e perdem o sono

e dormem demais

e comem muito

e emagrecem dezoito quilos

e cortam o cabelo curtinho

e se enfiam debaixo da cama

e choram baixinho

e se enfiam em qualquer cama

e gritam o mais alto que puderem

e juram que nunca mais vão se apaixonar

e na primeira volta

de novo se apaixonam

contra todos os prognósticos

os chutes dos psicanalistas

os voos sem paraquedas

eles se apaixonam

e vão pra frente em busca de tudo

sem carteira nas praias desertas

sozinhos junto ás multidões

porque estão apaixonados

e só pensam na possibilidade de algum desassossego

e na próxima costela

e na volta dele dela

ao se apaixonar

e lutam lutas perdidas

e tramam ondas heroicas

entram em missões impossíveis

quando se apaixonam

e batem e correm e matam

e se matam

e dizem belezas inacreditáveis

e correm esfolados e esfalfados

e sonham os sonhos molhados

e as escadarias que sobem ou descem

e nunca isso é tudo

porque de novo se apaixonam

no último rolê

no próximo sábado e no último fim de semana

contra todos os estratagemas

ás claras e escondidos

no ponto zero

e de novo

sem axiomas e e hermenêutica

sem nova lógica

sem mal que não pereça

vão apaixonar-se novamente