ERA EU AQUELE BARCO

Era eu aquele barco que velejava ao anoitecer da tarde chuvosa,

O qual o vento lançara a sorte em direção a costeira de um mar revolto,

Açoitado pelos vendavais, com a casca ferida pelos atritos daquelas inconstâncias,

Destinado a naufragar antes de um novo dia nascer, e antes do mar acalmar.

Era eu aquele barco, que não tinha um farol para guiar,

Perdido nas fortes correntezas de um imenso mar,

Sentido a solidão tão de perto me acompanhar no deserto profundo,

Chuva fina e doce molhando por cima, e ondas salgadas querendo tragar.

Medos e medos, sonhos que perdiam o ar,

Submergindo em águas de superfície agitadas, e profundezas silenciosas,

No palco dos pensamentos, apenas sonhos frustrados,

A expectativa que terrível era o capítulo final.

Trovões gritavam no céu, clarões, barulhos e ventos,

Mas os ventos que levavam caminho a destruição resolveram mudar o seu norte,

A costeira a cada brisa forte se distanciava da vista,

Os primeiros pedaços de céu azul foram surgindo, e o coração se permitiu descansar.

A calma acalma, e sua mãe chamada calmaria abraçava,

Era um barco machucado que não afundou, e velejava agora sob a luz da lua,

Aquecido pelos bons ventos da esperança, velejando de braços aberto ao amor que encontrara,

Era eu aquele barco, que outrora perdido o caminho alcançou.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 25/04/2016
Código do texto: T5616238
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