DESEJO

Quem dera ter você de novo, quem dera...

Quem dera o sorriso que a covinha encerra.

O desejo ardente a derreter a cera,

E a sinceridade do beijo que revela!

O tremor iminente ao gozo pleno,

O grito agudo liberado na garganta,

O nosso cheiro misturado ao sonho,

E a realidade que encanta!

Mas o que fazer se o mundo se aborrece?

Sofrendo os outros do amor alheio.

Na névoa turva o amor se desvanece,

E o desejo puro, torna-se imoral e feio.

Para que não rolem as lágrimas de alguém,

Marejam e jorram os olhos do querer bem.

Para, supostamente, alegrar-se a sociedade,

Morremos ambos, dia a dia, de saudade.

Quisera ser enfim um ermitão distante.

E, longe de todos, te amar sem culpa.

Abandonar de vez a vida dupla,

Chamá-la enfim de amada,

E nunca mais de amante!