O lenho
Diga ‘Urbe et Orbe” o que sempre dizes
A tua amiga e colega, entre furtadelas;
Vá que disso dependamos pra ser felizes,
As tuas chagas seriam já meras cicatrizes,
Que o amor saciado faria até rirmos delas...
Mas, guardas teus anelos sob sete chaves,
Ou, balde tem muito, ou, o pé tem pouco;
Viajo só, pras estrelas, em solitárias naves,
Piloto a esperança em movimentos suaves,
pouso em Vênus todos meus sonhos loucos...
Marte é o meu chão, dizem os mais sabidos,
Mas, rumo sempre para o planeta da beleza;
Conheço teus anseios, adentro ao escondido,
Nem pense que leio o que pensas, enxerido,
Mas, eu leio mesmo, podes ter toda certeza...
As doçuras que imaginas nem sei se as tenho,
Só garanto um quê, de sal, outro de pimenta,
Faz muita solitude na região de onde venho,
Entre ladrões, tempo e medo sofro no lenho,
O cálice não foi passado, e a cruz, é violenta...
A natureza soturna se associa à minha sina,
Apaga arco-íris, parte penhas, aves silencia;
Sim, até a criação se atentares ela te ensina,
aí, quando vieres, minha formosura Divina,
Os céus se abrirão, e será meu terceiro dia...