Lado C: o que eu tenho dito desde então
Da última vez eu estava muito confuso, afinal, duas das coisas fáceis de confundir são:
1. Amar uma pessoa;
2. Medo de estar sozinho.
Ela me ligou chorando depois de ler todas aquelas coisas cruéis.
- A verdade dói mesmo. – Ela disse, entre soluço e outro.
- Você nunca se sentiu assim? – Perguntei, comedido, esperando que ela me entendesse, porque sempre foi difícil quando ela chorava.
- Como? – Ela fungou, provavelmente enxugando os olhos e o nariz.
- Como se o mundo o tempo todo fosse injusto com você, como se você sempre fosse aquele que se machuca no final.
- Ah, tipo o que estou sentindo agora?
Eu quase ouvi a torneira se abrindo de novo, mas dentro de mim eu sabia que ela estava segurando o quanto podia.
Permaneci em silêncio, ouvindo ela respirando do outro lado da linha, provavelmente sentada na beira da cama, ou deitada com seu gatinho se enroscando em suas pernas.
- Você ainda está aí?
Estava. Não pensei duas vezes e desliguei o telefone.
Por que eu tenho que ser tão burro assim? Eu sempre estrago tudo.
Eureca! – Enquanto imaginava ela deitada na cama com o gato nos seus pés, lembrei me do dia em que ela ganhou o gatinho e me ligou, ele miava horrores e ela acompanhava seus miados (era assim que eles conversavam), eu jurei que ela era muito doida - mal sabia eu o quanto eu iria ser louco por ela. Isso me fez lembrar que foi nesse mesmo dia em que ela leu um texto maravilhoso para mim, dizendo que seria minha até o fim do dia e que era só isso o que ela sabia. Ela ficou comigo por aqueles cinco meses, passamos por tantos problemas juntos, também enfrentamos particularidades, porém sem deixar o bem do outro de lado. Nós brigamos por cada coisa estúpida, mas a parte boa dessas brigas sempre veio depois, onde ficávamos aninhados no pescoço do outro, e nos beijávamos horas a fio.
Meu coração saltitava tanto naquele tempo, e estava explodindo dentro de mim, dizendo: deixe de ser estúpido, ela é sua até o fim do dia, tem sido assim por, exatamente, duzentos dias. Cuida dela, cara. Por que tem que ser tão complicado assim? Vamos lá.
Quando me dei conta, já havia pegado a moto e saído de casa, olhei o painel de forma rápida e me dei conta que estava a cem quilômetros por hora, diminuí a velocidade ou minha alma ia chegar na casa dela antes de mim.
Vez ou outra o sorriso dela aparecia na minha mente como se estivesse num caleidoscópio: em todo canto estava o sorriso dela, aquele mesmo que sempre me traz paz me pondo em êxtase e, por ora eu mal podia beijá-lo como de costume.
Acelerei a moto, e quinze minutos depois estava a milésimos dela.
Respirei fundo e pus toda coragem do mundo na mão para bater na porta.
Toc Toc Toc.
Quando a vi abrindo a porta, olhei seus olhos úmidos, sua boca entreaberta, e a beijei.
- Eu sou um grande idiota. Você é perfeita, eu te amo.
- Eu tenho tanto medo de perder você.
- Está tudo bem.
Abracei-a mais forte e beijei sua testa.
- Quer entrar? – Seus olhos sorriram para mim.
Concordei, saí do mundo lá de fora que é cruel e injusto, e assim o fiz, entrei na sua casa, de volta para a vida, porque, fazendo uma analogia à Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças “Você ama quem você ama, não importa porque você ama.”
E, por isso, eu transbordei.
(Continuação do texto "Lado B: As minhas verdades e tudo que você nunca quis ouvir" que se encontra no blog iasmimdesconhecido.blogspot.com)