Verdadeira paixão
As negras cores embaçadas pela fraca visão
Negam o simples fato inconsolável da pobre condição
De conviver os graves atos inexoráveis da vida.
É no último instante que, no corpo
As dores múltiplas escondem o desgosto e afloram a comoção.
É o corpo que proporciona o necessário
Para os pensamentos se proliferarem, como vermes do olvido,
E para cada órgão criar cada sentimento, cada emoção.
Mas antigamente, o controle do corpo era meu,
E o Nada não me impedia de praticar ilusões:
Das vísceras fiz emergir concreto o chão
Do medo exposto contornava-se um coração
Das doentes vozes aterrorizadas
Dentro da imunda mente em desgaste
Eu teci, no amargor do silêncio da consciência
Todos os momentos, vis lágrimas de pouco alegramento.
Como se no frágil bordado
Medo angústia sexo solidão
Tudo me transbordasse e, fútil e imenso,
Tudo se pusesse a me inundar de verdadeira paixão.
(Gabriel Mayer, 25/06/07)