Sobre Voos e Flores

Sara gostava de criar

Ditados pouco convencionais

Que refletissem, pensava,

Sua forma liberta

E humorada

De saborear a vida.

Sentia-se muito bem

Com isso:

"Sobre engolir sapos:

Focar menos o aperto

De gargalo,

E mais a abertura

Da gargalhada", dizia.

Gostava, ainda,

De tornar mais leve

A vida dos outros:

"Mais belo que

Um voo solitário,

É uma revoada

De felicidades".

Um dia, porém,

Emudeceu.

O amor bateu tão forte

O desejo gritou tão alto

Que Sara, de repente,

Não se ouvia mais...

E o coração, antes leve,

Afundou-se inquieto,

Transbordando

(Receoso)

Das mais loucas

Vontades...

Mas seu amor,

Percebendo aquele medo

Que a impedia de voar,

Pousou ao seu lado.

E a presenteou

Inusitadamente

Com uma flor de plástico.

Silêncio.

Com o coração pesado,

Não houve espaço

Para a compreensão...

E ele a tomou pela mão,

E, pássaro,

Gorgeou em seu ouvido:

"Para viver seus sonhos,

Dê lírios..."

O riso

pulverizou

Seus grilhões

O beijo

A afastou

Da prisão

Seu coração-gaiola

Se abriu

E os amantes

Levantaram voo

De mãos dadas,

Em meio à nova

Revoada

Dos mais leves e densos

(Floridos ao vento)

Desejos.

;)