Reconciliação
A poesia, menina má,
as vezes quer ir embora,
fugir desse infortúnio
que é morar em um peito turbulento
como o meu!
Mas eu, que não aceito gente fujona,
seguro ela pela gola
e a obrigo a se sentar
para termos aquela antiga conversa
sobre onde é o lugar de quem.
Ela, a poesia, vem me falar toda brava
que eu a deixei de lado,
que não penso mais nela como antigamente.
E não é que a bandida tem faro?
Mas a verdade é que eu amo essa ingrata,
quero ela morando dentro de mim,
dançando, desfilando
e colocando para o mundo
tudo o que ela mesma cultiva dentro de mim.
Vencida, então, digo que a amo.
Peço perdão, fico de joelhos
e prometo flores rosas toda noite
como prova da minha remissão.
Ela, coitadinha, sem muita escolha,
aceita o que tenho a lhe oferecer.
E jeitosamente se aconchega no meu coração,
diz que também me ama
e que nunca iria embora de verdade.
Eu sei que ela nunca vai me deixar
porque nunca vou deixar que ela me escape.
Vou trancá-la para sempre no peito
e deixar que adormeça.
Mas hora ou outra,
quando ela quiser acordar,
vou deixar que me use
e coloque em palavras
tudo o que ela faz comigo!