Reconciliação

A poesia, menina má,

as vezes quer ir embora,

fugir desse infortúnio

que é morar em um peito turbulento

como o meu!

Mas eu, que não aceito gente fujona,

seguro ela pela gola

e a obrigo a se sentar

para termos aquela antiga conversa

sobre onde é o lugar de quem.

Ela, a poesia, vem me falar toda brava

que eu a deixei de lado,

que não penso mais nela como antigamente.

E não é que a bandida tem faro?

Mas a verdade é que eu amo essa ingrata,

quero ela morando dentro de mim,

dançando, desfilando

e colocando para o mundo

tudo o que ela mesma cultiva dentro de mim.

Vencida, então, digo que a amo.

Peço perdão, fico de joelhos

e prometo flores rosas toda noite

como prova da minha remissão.

Ela, coitadinha, sem muita escolha,

aceita o que tenho a lhe oferecer.

E jeitosamente se aconchega no meu coração,

diz que também me ama

e que nunca iria embora de verdade.

Eu sei que ela nunca vai me deixar

porque nunca vou deixar que ela me escape.

Vou trancá-la para sempre no peito

e deixar que adormeça.

Mas hora ou outra,

quando ela quiser acordar,

vou deixar que me use

e coloque em palavras

tudo o que ela faz comigo!

Miriã Pinheiro
Enviado por Miriã Pinheiro em 08/05/2015
Código do texto: T5235362
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