Não se afobe,não!
"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar (...) " (Chico Buarque)
Não se afobe,não!
A emoção quer pra ontem
a pele afogueada
o desejo latente
intermitente
explode
e exige
que a compostura
dê lugar à luxúria
que desperta todos
os sentidos
e faz dos amantes
reféns do prazer
E a gente olha pra Lua
suspira
se abraça
se percebe em brasa
se ele não está
A gente segue a estrela-guia
que
numa estrepolia
cruza o céu
e oferece uma carona
uma viagem só de ida
pra onde ele está
Como não se afobar
se a solidão
de beijos
de abraços baldios
a ausência de doces sussurros
nos silencia o riso
nos tolda o olhar
nos põe numa sinuca-de-bico
de onde não se vê saída?
A afobação é inevitável
a carência do outro é real
é palpável
Mas....
O amor também
pode esperar em silêncio
na contemplação
do poente
do alvorecer
dos luares
das flores entreabertas
no embalo das canções dolentes
da viola amorosa
do seresteiro apaixonado
O que é amor
pode esperar
no fundo do armário
no oculto da alma
por séculos
milênios
até num posta-restante gigante
onde a humanidade
depositou seus sonhos
esperanças
desilusões
e toda uma amorosidade
nem sempre correspondida
mas tão real
E mesmo que eu não me afobe mais
e que seja apenas
uma escafandrista do amor
sei que ao chegar à superfície
ele estará lá
diluído no ar que respiro
porque todos os amantes
de outrora
como os de agora
são a garantia
de sua perpetuação
Se possível,
Não afobe não!,