Tínhamos conversado a tarde

Tínhamos

conversado a tarde

ao ouvido um do outro.

Os pássaros,

loucos,

sublimes,

narcisos,

iam mirar-se no rio

à velocidade do bando.

Tu abriste os braços

ao encontro do vento,

abriste as mãos,

abriste os dedos,

abriste um grito:

porque é que os pássaros

nunca voam devagar?

E ardias,

ardias nas minhas mãos.

Enquanto

falavas aos pássaros,

eu observava-te o rosto,

os lábios abertos num espanto,

os olhos abertos

pelas divagações do bando,

a pele aberta pela luz do vento,

e ardendo,

ardendo nas minhas mãos.

Nunca te amei tanto

como no ápice

da tua exortação

aos pássaros.

Tínhamos acabado

de ser eternos

nos lábios um do outro,

e íamos levar a eternidade

até ao fim

de sermos carne,

para além de sermos carne.

E eu a prender-nos,

eternamente efémeros,

na miragem de água

dos fios do sol.

Nan Ferdinan
Enviado por Nan Ferdinan em 07/12/2014
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