Asas do amor

Todas as aves do mundo em minha cerca,

solidárias, querendo me dar as suas asas;

se sou Noé, deve ter mais bichos na arca,

mas é muito meu, o dilúvio que me cerca,

sei, não estão ameaçadas as outras casas;

a poesia já me faculta pairar por aí ao léu,

mas, quanto é fugaz e breve seu repouso!

nesse tribunal são frágeis as forças do réu,

que não se importa tanto em ganhar o céu,

antes, ter o lugar desejado para seu pouso;

e então, esse sonho de voar que me impele,

perdoem-me aves, é mais que a imensidão;

não que, seus nobres domínios sejam reles,

mas as asas do amor se revestem de peles,

e as que têm penas largas são as da solidão...