Meu (?)
O Auto-Retrato
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem (...)
( Mario Quintana )
Meu (?)
E no meu autorretrato
Que agora se escreve assim
Incomodando a gente
Por simples convenção
Eu me pinto de todas as cores
Das mais claras e leves
Até as mais fortes
E obscuras
Mas me faço
E me refaço
Em versos
Sejam eles ternos
Ou circunspectos
E no flash
Que faço de mim
Um quadro
Nunca me sai da memória
Sou eu na janela
Tal qual uma namoradeira
Ou a Carolina do Chico
O meu olhar espichado ao longe
Os cotovelos
Às vezes doídos
De tanto esperar
Um amor
O que sempre existiu
apenas em meus sonhos
E se muitas vezes
não acompanhei a banda
Que chamava nas ruas
Nos meus versos encantados
Eu confessava:Sou tua!
Mas o seu rosto não me vinha
Nas cores alegres
Leves
E lindas
de orquídeas alvissareiras
de todas as nuances
Em que também fui nuvem
Balanço de criança
Arco-íris
O seu esboço era quase nítido
E nas feias
Densas
E tensas
Nada de ti me aparecia
E então
Depois de tanto tempo
Sem janela
Sem olhares perdidos nas esquinas
Eu te reencontro inteiro
vívido
E verdadeiro
Junto a mim
No meu melhor sorriso
Mas...
O retrato era meu...
Por que falei de ti?