Pudesse eu florir em cada flor

Pudesse eu florir em cada flor

no pretexto do sonho em que te envolvo

do meu corpo, no teu corpo, em desalinho.

E tu beberes o conforto que em cada momento

te ofereço no líquido híbrido dos meus olhos

de águia presa, no anseio e no fascínio.

Este cálice de sangue e vida, esta taça pálida,

d'amargurada orquídea.

Ser-te seiva, suor e linfa...

Pudesse eu, amado, florir e madrugar

nas pupilas do teu olhar tristonho.

Ser o teu mar, o teu mais alto sonho,

ser finda melancolia. Ser novo dia

a beber da claridade na febre da tua lira.

Ser ninfa,

de cobiçosos horizontes, d’eternidades,

e tu poesia

a explodir-se na fonte de meu corpo, amado.

Concubinos, viajante de um mesmo sonho,

de mãos unidas, elevados ao êxtase

do canto egrégio na voz do silêncio

de solidão extinta.

Sermos dos amantes a voz que explode,

a voz que grita, na flama de quem se ama

sem razão ou medida, na praça e na avenida,

na alma nua, no chão da rua, na purificação

do sal e mel.

No sorriso, na adoração, na pacificação da dor…

Pudesse eu florir em cada flor de ti, amor!

Pudesse eu!...

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 18/05/2007
Código do texto: T492083
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