Pudesse eu florir em cada flor
Pudesse eu florir em cada flor
no pretexto do sonho em que te envolvo
do meu corpo, no teu corpo, em desalinho.
E tu beberes o conforto que em cada momento
te ofereço no líquido híbrido dos meus olhos
de águia presa, no anseio e no fascínio.
Este cálice de sangue e vida, esta taça pálida,
d'amargurada orquídea.
Ser-te seiva, suor e linfa...
Pudesse eu, amado, florir e madrugar
nas pupilas do teu olhar tristonho.
Ser o teu mar, o teu mais alto sonho,
ser finda melancolia. Ser novo dia
a beber da claridade na febre da tua lira.
Ser ninfa,
de cobiçosos horizontes, d’eternidades,
e tu poesia
a explodir-se na fonte de meu corpo, amado.
Concubinos, viajante de um mesmo sonho,
de mãos unidas, elevados ao êxtase
do canto egrégio na voz do silêncio
de solidão extinta.
Sermos dos amantes a voz que explode,
a voz que grita, na flama de quem se ama
sem razão ou medida, na praça e na avenida,
na alma nua, no chão da rua, na purificação
do sal e mel.
No sorriso, na adoração, na pacificação da dor…
Pudesse eu florir em cada flor de ti, amor!
Pudesse eu!...