Posse
Quem pode nomear isso que há em mim é cigano
Digo com um pouco de medo,
Certa timidez, é desumano
É tão claro que me fez chorar
Foi tanta luz que não soube para onde olhar
Clarividente estou ou sempre fui,
Não sei, melhor enxugar as lágrimas e encarar
E minha cabeça não se contentou em só rodar
Fica nesse tresloucado compasso que é torto, verdade
É verdadeiro mas não canso,
Quero perder a noção
Ser acrobata desses que não vê o picadeiro como palco
Mas sim o próprio pedaço,
Janela aberta no espaço
Alma incompleta,
Repleta de uma gota
Molhado seja nosso chão
Se por comparação dizem que é algo da natureza
Tenho na minha frente a personificação da beleza
Mas se não tem nome é desejo, se tem asas não vejo
Se chove não sei, mas se molha e rio é porque trovejo
E se é por irreverência
Faço de conta que não gosto
Minto para mim, meus filhos,
Ultrapasso limites, choro
Se me perguntarem a verdade,
Tenho medo, coro
Mas quando falam de você não aguento,
Q que era calmo logo trespassa o meu tino,
Vira tormento, enrubesço o que é humano
O que for animal se esconde,
Falsa calma e aí o temporal
Urro de dor quando me ignoras,
Fecho os olhos, me recolho
Durmo mais cedo
Quando você vai embora
E se tiveres a decência vê se não demora,
É tudo questão de impaciência
É tudo tão vazio quando você não chora
É tudo tão azul quando não chega a hora
Sou tão humano hoje com tua ausência
Com você meu mundo exala hormônios
Somos dois corpos, um desejo, tudo nu
A espera do tempo acabar,
E você se danando a cantar
Desleixadamente não penteavas o cabelo
E eu, tão escravo seu, tão sem rumos e meios
A contemplar a natureza que Deus me deu
Querendo amar e paralisar ao mesmo tempo
O que sinto, o inesperado, o sem nome, o inegável,
O que quero que seja meu
Gabriel Amorim 30/06/2014