foram eternos dias

foram eternos dias a distanciar nossas vidas.

nossos corpos, separados, recriaram seus instintos,

circunspectos, mesclados a um proscênio fosco

atuamos como se nunca houvéssemos nos encontrado,

nos tocado, nos provado, nos revelado,

determinados, sob um céu ordinário.

foram eternos dias a desamarrar nossos destinos,

a silenciar nossos gritos em nossa cama.

e a cada noite eu os ouvia, nesta cama agora vazia,

nossos fôlegos sob esta mesma lua.

tua saliva e tua secreção a corromper todos os hinos

onde agora só restam demônios.

foram eternos dias apagando nossos nomes,

o céu de tua boca, abrigo do falo insistente,

agora apenas um vácuo inconstante.

tantos foram os nós nunca desfeitos,

éramos anjos tentando saciar nossas fomes,

tentando iludir a dor persistente.

foram eternos dias que escreveram nossa história,

a tua voz persiste ainda na noite escura.

a tua falta ocupa o espaço do ambiente,

doce ausência em minha memória,

amargo sabor neste dia que se inicia.

nossas vitórias, nossas derrotas são um perjúrio.

foram eternos dias que fecharam minhas feridas,

estancaram o sangue à minha revelia

nas avenidas do meu infortúnio,

entre os clamores dos meus dias.

bardo errante sem rumo

imerso em delírios, pecados e loucura.

foram eternos dias a consolidar nossos receios

entre os credos de tua púbis sob esta sombra desnuda

nossa intimidade subverteu nossa lua

renegando a inexistente paz de nossa teia,

do que passou a se chamar presente,

em nossas faces somente a negrura.

Assista o video

https://www.youtube.com/watch?v=XfNabXeIbVI

Poema do livro Amores Possíveis

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